sexta-feira, fevereiro 19, 2010

 
POEMAS DE FEVEREIRO:

Do amor natimorto

São seus olhos
Foi a resposta.
Cubos de gelo
Na mesa posta.

Na mesa posta
Da ilusão, talvez...
Cena imposta
Do que se desfez?

Do que se desfez,
Sim, tormento.
E mais uma vez
Que o leve, vento...

Não meus olhos.
Talvez foi sonho...
Que o leve, gelo,
No fogo ponho...

Depois do Carnaval

Depois do Carnaval,
Nem a quarta em cinzas,
Nem a quinta reiniciada,
Nem a sexta mais louca.
Apenas o tempo suspenso,
Quiçá, a agenda morta...
Mas a Polinésia é longe...

Ciclo acadêmico

Uma tese, enfim,
Ou em tese.
Tese.
Mas e a antítese?
Enfim, a síntese.
Em tese...

O vento do fim da tarde

Não use o mar inteiro para lavar ferida.
É muita coisa para um corte pequeno.
Lave-se então por inteiro no mar todo.
Antes de ventar a tarde, inventar a vida...

Mudando de assunto

Mude.
Mude a expectativa.
Mude a rotina.
Mude o impensável.
Mude a cara.
Mude a barriga.
Mude o assunto.
Mudo.

Mudança no mar

E havia aquela queixa
De que quando chegava
Perto do mar, este sempre
Se afastava, no máximo
Um beijo leve de enguia,
Elétrico (e quase mortal).

Mas um dia o mar mudou
E havia aquela queixa
Ainda, mas agora jogada
Dentro de uma garrafa,
Arremessada ao nada,
Enderaçada ao nada.
Finalmente.

Redenção

Fôlego renovado.
Riso recuperado.
Pode ser em março.
Talvez primavera.
Quem sabe outubro.
Não me importa.
Embora incomoda
Volta e meia o passado,
Embora o futuro
Acorde meio torto,
Não me importa.

Hoje germina o hoje.

Verão

E ela se recordava
De sua praia agora tão longe.
O grito de fome da gaivota
Rompendo o mar sôfrego
E o sol
Forte como a morte,
Inquieto como a vida.

Verão é a mais necessária
Perturbação.

(Matheus Fontella)

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