terça-feira, fevereiro 06, 2007

 
FRAGMENTOS DE UM PAÍS

Trabalho, riqueza e tráfego
No centro de São Paulo.
Sujeira e pobreza
Na periferia
Pressionada
Mais do que os pilares do Masp.
E, à espera dos empregadores atentos,
Das ações preferenciais
E do farol aberto
Ninguém percebe quando
José Ribamar da Silva Severino
Sonha.

Num salto
Tipo reajuste de ponte-aérea,
O Rio maravilhoso
Desfila um gosto de Ipanema,
Uma boate da moda,
Mulheres lindas com os peitos
De fora,
Estrangeiros com sede
Que cabe o Maracanã
Num copo de caipira,
Porre tomado
Longe da decadência da Lapa
Que chora, relembra, breca
O seu auge de Moreira da Silva
Ladeira
Abaixo.
Mas aí, que ironia,
Morre Moreira
Para infelicidade do samba,
E a Lapa volta para a moda,
Mas tão universitária.
Malandragem dispensa diploma.

Lá no Sul,
Como gostam de dizer
Lá no Centro,
A Rua da Praia sem Quintana
Desfila um certo ocaso
Ainda de poema simbolista, provinciano,
Mas o pôr-do-sol é sempre um cais
Sem muro
Como deveria ser a cultura brasileira,
Sorvendo
Publicamente
Um pingado
Na praça calçada
De livros.

Cansado só de haver Eixo Centro-Sul,
Quem sabe me refugie em Goiás,
Na poesia de Coralina,
Na casa mais velha de Goiás Velho,
Na tropa de gado, contos de Carvalho Ramos,
Talvez na Procissão do Fogaréu
E lá peça perdão por Brasília...

Se o cerrado não servir, talvez me dirija
Para a Boa Viagem,
Beba cachaça com o Galo da Madrugada,
Me abandone contigo, mulher,
Em qualquer sacada árabe
Ou me afogue no Capibaribe,
Cão sem Plumas, artéria holandesa,
Veneza violenta, tão colorida de brasis.

E a Amazônia?
Ora, a Amazônia pertence ao Brasil?!

(Matheus Fontella)

Ilustração: 'Músicos', de Emiliano Di Cavalcanti

 
ANO DO PORCO

Porcos completam corrida em um zoológico de Jinan, na província de Shandong, no leste da China. Segundo o calendário chinês, o ano do porco começa no dia 18 deste mês. Foto: Reuters.



 
PENSAMENTO DO DIA:

"Há algo mais que tem o poder de nos despertar para a verdade. São os trabalhos dos escritores de gênio... Eles nos dão, à guisa de ficção, algo eqüivalente à densidade literal do real, aquela densidade que a vida nos oferece todo dia mas que somos incapazes de agarrar porque nos entretemos com mentiras" (Simone Weil, 1909-1943, filósofa, escritora e mística francesa).

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