quinta-feira, janeiro 22, 2009
POEMAS DE JANEIRO
Cena
Apresentava a pele, ainda fresca do banho,
Coberta pelo cabelo longo,
Ao lado de uma pia, com a pouca roupa
Do Verão.
Agitava
Suavemente
A xícara de café preto
Adoçado com mel
E então indagava,
Com mescla de alegria e medo,
O que será?
E a cena se imprime
- Mais de década -
Na memória de meus braços,
No desconcerto do olhar
E neste gosto agridoce
Da dispersão.
Salgueiros
Ao relento.
Fazíamos planos.
Os olhos não se encontravam.
Do lugar, ficaram as árvores
Lamentando
Por outras coisas.
E o cotidiano segue
Entre os salgueiros.
O Círculo do Livro
A Academia cobra poemas sérios.
Excelsos.
A Crítica ignora os poetas em demasia.
Excessos.
A Editora vende apenas os consagrados.
Exceções.
Mas o que irrita mesmo é
A Poesia cometida por políticos.
Excelências.
Velho Tema
Qual o tema de sempre?
Atores escrevem.
A representação do amor.
Músicos escrevem.
A harmonia do amor.
Jornalistas escrevem.
Os crimes do amor.
Engenheiros escrevem.
O edificante amor.
Médicos escrevem.
O mal do amor.
Magos escrevem.
O desencantado amor.
Prostitutas escrevem.
O ausente amor.
Disléxicos fazem amor.
Do Amor Natural
Boca trêmula
De alegria aparvalhada.
Respiração cortada.
Olhos para mais nada.
Mente em fuga.
O velho sentido
Do amor novo
No tato
Do plástico,
No cheiro
Do estofamento.
Navegar é Preciso?
Navegação sem rumo.
De página a página.
De lugar a lugar.
De emprego a emprego.
Nau à deriva.
Quebra-se a quilha.
Baixa-se a espinha.
Repete-se a cena.
Esfria-se a tela.
Vida desperdiçada.
Navegar é preciso?
Fábula
I
Um estranho estudioso,
Do tipo que não está no catálogo,
Atiça a curiosidade,
Pesquisa ambientes
De cinismo e perversidade:
Delegacia de polícia;
Tribunal militar;
Assembleia da ONU;
Reunião de parentes;
Conselho escolar,
E o cenário mais horrendo,
Duas crianças se encontram
Na pracinha de brinquedos.
- O meu é mais bonito!
- Feio, feio, feio!
Foi então que o sábio considerou
Que a inocência está no zoo...
II
Crianças precisam de partituras,
Por que então vem a fase adulta
E tudo se torna cacofonia...
A praia superlativa
A praia mais desejada,
Por tantas vezes adiada,
Mais bonita que uma mente
Sem preocupações,
Estava ali em frente,
Naquele sorriso,
Que insinuava abrir o templo, revelando
Os sopros
De um santuário,
O oceano pelo avesso.
Mas quando é tudo superlativo,
Desconfio.
E foi assim que prendi a minha ação.
Simpatia
Quer um escape que não seja
Entorpecente?
Um escape que não implica
Deixar de ser gente?
Um escape que possibilita
Fruir sem assediar?
Um escape que permita
Submergir sem naufragar?
Vá, livro de autoajuda fechado
Embaixo do braço e não o abra,
E então aprecie apenas o fluxo
Da vida que passa em frente.
Heráclito já fazia isso
E, ao que consta,
Se eternizou
Sem arrependimento.
(Matheus Fontella)
Cena
Apresentava a pele, ainda fresca do banho,
Coberta pelo cabelo longo,
Ao lado de uma pia, com a pouca roupa
Do Verão.
Agitava
Suavemente
A xícara de café preto
Adoçado com mel
E então indagava,
Com mescla de alegria e medo,
O que será?
E a cena se imprime
- Mais de década -
Na memória de meus braços,
No desconcerto do olhar
E neste gosto agridoce
Da dispersão.
Salgueiros
Ao relento.
Fazíamos planos.
Os olhos não se encontravam.
Do lugar, ficaram as árvores
Lamentando
Por outras coisas.
E o cotidiano segue
Entre os salgueiros.
O Círculo do Livro
A Academia cobra poemas sérios.
Excelsos.
A Crítica ignora os poetas em demasia.
Excessos.
A Editora vende apenas os consagrados.
Exceções.
Mas o que irrita mesmo é
A Poesia cometida por políticos.
Excelências.
Velho Tema
Qual o tema de sempre?
Atores escrevem.
A representação do amor.
Músicos escrevem.
A harmonia do amor.
Jornalistas escrevem.
Os crimes do amor.
Engenheiros escrevem.
O edificante amor.
Médicos escrevem.
O mal do amor.
Magos escrevem.
O desencantado amor.
Prostitutas escrevem.
O ausente amor.
Disléxicos fazem amor.
Do Amor Natural
Boca trêmula
De alegria aparvalhada.
Respiração cortada.
Olhos para mais nada.
Mente em fuga.
O velho sentido
Do amor novo
No tato
Do plástico,
No cheiro
Do estofamento.
Navegar é Preciso?
Navegação sem rumo.
De página a página.
De lugar a lugar.
De emprego a emprego.
Nau à deriva.
Quebra-se a quilha.
Baixa-se a espinha.
Repete-se a cena.
Esfria-se a tela.
Vida desperdiçada.
Navegar é preciso?
Fábula
I
Um estranho estudioso,
Do tipo que não está no catálogo,
Atiça a curiosidade,
Pesquisa ambientes
De cinismo e perversidade:
Delegacia de polícia;
Tribunal militar;
Assembleia da ONU;
Reunião de parentes;
Conselho escolar,
E o cenário mais horrendo,
Duas crianças se encontram
Na pracinha de brinquedos.
- O meu é mais bonito!
- Feio, feio, feio!
Foi então que o sábio considerou
Que a inocência está no zoo...
II
Crianças precisam de partituras,
Por que então vem a fase adulta
E tudo se torna cacofonia...
A praia superlativa
A praia mais desejada,
Por tantas vezes adiada,
Mais bonita que uma mente
Sem preocupações,
Estava ali em frente,
Naquele sorriso,
Que insinuava abrir o templo, revelando
Os sopros
De um santuário,
O oceano pelo avesso.
Mas quando é tudo superlativo,
Desconfio.
E foi assim que prendi a minha ação.
Simpatia
Quer um escape que não seja
Entorpecente?
Um escape que não implica
Deixar de ser gente?
Um escape que possibilita
Fruir sem assediar?
Um escape que permita
Submergir sem naufragar?
Vá, livro de autoajuda fechado
Embaixo do braço e não o abra,
E então aprecie apenas o fluxo
Da vida que passa em frente.
Heráclito já fazia isso
E, ao que consta,
Se eternizou
Sem arrependimento.
(Matheus Fontella)