terça-feira, agosto 07, 2007

 
LITERATURA OU LITERATICE??

Respondendo a indagação: se for no Brasil, literatice. No Rio Grande do Sul, então, há mais profundidade em letras de funk carioca. É o que domina o cenário das letras. Faltam (em quantidade e boa qualidade) autores, faltam (em quantidade) leitores, faltam, como não poderia deixar de ser, críticos ao invés de palpiteiros literários (já chega os que têm em profusão no país no campo esportivo), faltam livros, quer dizer, obras mais baratas, diversificadas e com ampliação de traduções. Mas a ausência maior é a falta de temas, ou melhor, temas não faltam num Brasil pré-moderno (e até medieval), com bolsões de pós-modernidade: o que falta em nossa literatura é olhar para o próprio umbigo de uma forma que não seja um melodrama nacionalista/ufanista ou o registro pelo registro do que se observa em qualquer centro de grande cidade, periferias e nas filas do Sine ou Inss: precariedade, vida precária. Mas aí a crítica de grandes revistas/jornais do centro do país defende com unhas e dentes: é isso mesmo, nada de Brasil, faça como Bernardo Carvalho, escreva sobre a Mongólia, um belo livro, etc e tal. Bah.

E aqui, no Brasil meridional, a mediocridade também grassa & medra (não, não é um duo de música cafona), sendo dignos de elogios orgiásticos apenas os medalhões ou neófitos com boa rede de contatos, não-literários preferencialmente. Vamos aos fatos: a literatura hoje feita aqui tem que passar por algum estágio/temporada em São Paulo, melhor se o/a aspirante a escritor/escritora for um publicitário, ou jornalista de moda ou com interesse maior (!) pelo cinema, aí então retorna a tempo de garantir uma entrevista aqui e ali com velhos conhecidos midiáticos e a tempo de inserir sua opus magna na lista dos mais vendidos da Feira do Livro (que ainda resiste como boa coisa, mas até quando... embora perguntar isso seja uma audácia). Bom, e o conteúdo das tais obrinhas esplendorosas, continhos, poeminhas e, ah, sim, não podem faltar em nossa vã cultura de literatice, romancezinhos... E feito a cereja nesse bolo de morangos já há muito mofados, é proibido questionar certos medalhões que há por aqui: Caio Fernando Abreu é interessante ainda, é, mas, quase todos sabem, está morto, Lya Luft deveria seguir apenas com suas traduções (mas e a coluna na Veja? Tsc, tsc), Juremir Machado tem graça ainda quando desanca esse ou aquele, isso ou aquilo, e isso na coluna do jornal, portanto jornalismo (e nesse é de uma chatice quando fala de PT ou Robert Darnton, coisas também chatas), o Scliar teve sua imortalidade suspensa na década de 1970, depois, tanto faz, e os Verissimo, claro, são intocáveis, embora eu goste mais do filho e só como cronista. Romancista? Desenhista? Deixa assim. Ou melhor, não deixa assim! Tem o Noll também, mas atração em Berkeley e Belaggio, prefiro retirar teses na universidade, a esfera onde mais se assassina a leitura no Brasil, ao lado do Palácio do Planalto. Ah, e a Martha Medeiros, ainda bem que anda sumida, ela até que tem uns 6 (ou 8?) poemas interessantes, mas depois foi se repetindo, já o resto, preferível passar os olhos como um trem-bala! E, tararã, encerramos o quadro com modeletes-escritoras e eruditos-marginais-estudantes de comunicação-de 23 anos, naturais de Porto Alegre-residentes em São Paulo-apaixonados pelo aeroporto de Nova York, o que sairá de bom desse caldo? Ficam os tabletes, os molhos, enquanto a galinha é jogada fora... É, leitor de literatura, a desgraça, mas também a esperança de horizontes melhores, ainda está em suas mãos: rebele-se e compreenda de maneira mais profunda a modernidade de Machado, Qorpo Santo, Drummond, Quintana, Raul Bopp, Cyro Martins, o Josué... Clássico, meu pobre leitor, não é consolidado em esquema de cursinho ou resenha de resumo de livro. Bem, vou encerrando por aqui, tenho ainda que escrever uma tese, achar um emprego, ler Capote ou Schnitzler, arrumar uns poemas meus bem ruinzinhos, mas quem sabe ainda há conserto, sempre o 'ainda'...

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