sexta-feira, novembro 03, 2006
MÁ-PREGAÇÃO
Há poesia de menos nos livros.
(E há Poesia demais pelas calçadas.)
É uma tal profusão de diários íntimos,
Álbuns de figurinhas ex-amadas.
É uma poesia de tão belas imagens,
Sacrários puros de sacrossantas rosas,
O que não é problema, se miragens
Não só fossem de fontes nebulosas.
Ó fontes que não matam a sede,
Exceto em oásis aqui e ali (mas bem ali...),
Falem até do rococó, mas vede,
Ao vosso lado, a presença lírica da gari.
Não se trata de ser panfletário,
Cada um escreve o que bem entender,
Mas é que emoção parece hoje stradivário,
Algo estético, quase virgem, pra não romper
Com essas letras nulas que, contudo,
Na sua rastaqüera profundidade,
Ainda despem pedaços do real desnudo
De qualquer periferia de cidade:
Pode ser metrópole, cafundó, jaçanã,
Mas é a cidade, verdadeira catedral
Velando pelo dia-a-dia, enquanto no afã
De se encastelar, o poeta prega mal
Seu ofício, torna-se o intangível Bardo
Que vai perdendo os poucos leitores
Magros, famélicos, bastardos
Por não reverem suas profundas dores,
Suas quebras, seus amores, seus milagres
Do cotidiano, omitidos, não retratados
Nos livros, artigos de luxo empregados
Nesses debates estéreis e tão agres
Sobre poemas concebidos para apenas
Círculos de análises acadêmicas,
Onde a física quântica de tais poemas
Supre a ânsia por verbas anêmicas...
E há Poesia demais pelas calçadas!
(Matheus Fontella)
Há poesia de menos nos livros.
(E há Poesia demais pelas calçadas.)
É uma tal profusão de diários íntimos,
Álbuns de figurinhas ex-amadas.
É uma poesia de tão belas imagens,
Sacrários puros de sacrossantas rosas,
O que não é problema, se miragens
Não só fossem de fontes nebulosas.
Ó fontes que não matam a sede,
Exceto em oásis aqui e ali (mas bem ali...),
Falem até do rococó, mas vede,
Ao vosso lado, a presença lírica da gari.
Não se trata de ser panfletário,
Cada um escreve o que bem entender,
Mas é que emoção parece hoje stradivário,
Algo estético, quase virgem, pra não romper
Com essas letras nulas que, contudo,
Na sua rastaqüera profundidade,
Ainda despem pedaços do real desnudo
De qualquer periferia de cidade:
Pode ser metrópole, cafundó, jaçanã,
Mas é a cidade, verdadeira catedral
Velando pelo dia-a-dia, enquanto no afã
De se encastelar, o poeta prega mal
Seu ofício, torna-se o intangível Bardo
Que vai perdendo os poucos leitores
Magros, famélicos, bastardos
Por não reverem suas profundas dores,
Suas quebras, seus amores, seus milagres
Do cotidiano, omitidos, não retratados
Nos livros, artigos de luxo empregados
Nesses debates estéreis e tão agres
Sobre poemas concebidos para apenas
Círculos de análises acadêmicas,
Onde a física quântica de tais poemas
Supre a ânsia por verbas anêmicas...
E há Poesia demais pelas calçadas!
(Matheus Fontella)