terça-feira, novembro 14, 2006
DE FORNIS CLAMAVI
I – Gatos atravessadores
Do Centro-Oeste para Minas,
A produção de carvão vegetal
Impulsiona, primeiro, as siderúrgicas,
Depois, toda a cadeia industrial.
Mas como, como não se engasgar
Com a fumaça densa, preta?
A fumaça de economia que forja,
A ferro e fogo, sua muleta?
Mas como não se tornar um ‘cão’
Com o ‘gato’, que é quem o forno explora?
O ‘gato’ que ministra a fumaça
Que o rato carvoeiro inala e decora?
O ‘rato’ carvoeiro que no forno
Teve já queimada sua humanidade?
Aquela que o gato, atravessador
E carrasco, diz não saber a idade?
Pois é, o gato atravessador não sabe
Distinguir adulto, rapaz, criança.
E o que dizer, assim, de quem das garras
Do ‘gato’ ganha o arroz e a esperança?
Esperança, densa como a fumaça
De um dia ser menos cruel o ‘gato’?
Pobre ‘rato’: quanto mais adentra
O forno, menos engole um prato.
O motivo da penúria carvoeira
Tem uma fórmula horrenda:
O forno mais longe de Minas,
Maior o frete, menor a renda.
Assim, o sonho de um belo prato
De arroz e feijão se torna arremesso
De prato ao léu, mas que importa o
Prato: ‘rato’ não merece o apreço!
‘Rato’ carvoeiro tem é um preço
Dado ao avô, pai e neto por área
Derrubada, serrada e carbonizada,
Quadro semelhante à pulmão de pária.
Ó pulmão de pária, pulmão maldito,
Que para o gato gera impagável multa,
Multa com a qual enxuga as mãos
Todo governo que assim exulta:
“Nossa ação se transformou em notícia,
E o drama maior do ‘rato’ só redunda
Durante documentário, ou leitura
De jornal, depois tudo se esfuma...”
II – Ratos carvoeiros
Sete vidas que vão
Nas garras do ‘gato’.
Sete vidas que vão
Nos juros do fogo.
Sete vidas que vão
Nas clareiras do mato.
Sete vidas que vão
Nos carinhos da multa.
Sete vidas que vão
Nas fumaças da falta.
Sete vidas que vão
Nos fornos da fome.
Sete vidas que vão
Em sete vidas mais?
Sete vidas não, não.
‘Ratos’ não as têm!
(Matheus Fontella, novembro de 2000)
Ilustração: imagem do sufocante documentário 'Os Carvoeiros', do diretor inglês Nigel Noble.
I – Gatos atravessadores
Do Centro-Oeste para Minas,
A produção de carvão vegetal
Impulsiona, primeiro, as siderúrgicas,
Depois, toda a cadeia industrial.
Mas como, como não se engasgar
Com a fumaça densa, preta?
A fumaça de economia que forja,
A ferro e fogo, sua muleta?
Mas como não se tornar um ‘cão’
Com o ‘gato’, que é quem o forno explora?
O ‘gato’ que ministra a fumaça
Que o rato carvoeiro inala e decora?
O ‘rato’ carvoeiro que no forno
Teve já queimada sua humanidade?
Aquela que o gato, atravessador
E carrasco, diz não saber a idade?
Pois é, o gato atravessador não sabe
Distinguir adulto, rapaz, criança.
E o que dizer, assim, de quem das garras
Do ‘gato’ ganha o arroz e a esperança?
Esperança, densa como a fumaça
De um dia ser menos cruel o ‘gato’?
Pobre ‘rato’: quanto mais adentra
O forno, menos engole um prato.
O motivo da penúria carvoeira
Tem uma fórmula horrenda:
O forno mais longe de Minas,
Maior o frete, menor a renda.
Assim, o sonho de um belo prato
De arroz e feijão se torna arremesso
De prato ao léu, mas que importa o
Prato: ‘rato’ não merece o apreço!
‘Rato’ carvoeiro tem é um preço
Dado ao avô, pai e neto por área
Derrubada, serrada e carbonizada,
Quadro semelhante à pulmão de pária.
Ó pulmão de pária, pulmão maldito,
Que para o gato gera impagável multa,
Multa com a qual enxuga as mãos
Todo governo que assim exulta:
“Nossa ação se transformou em notícia,
E o drama maior do ‘rato’ só redunda
Durante documentário, ou leitura
De jornal, depois tudo se esfuma...”
II – Ratos carvoeiros
Sete vidas que vão
Nas garras do ‘gato’.
Sete vidas que vão
Nos juros do fogo.
Sete vidas que vão
Nas clareiras do mato.
Sete vidas que vão
Nos carinhos da multa.
Sete vidas que vão
Nas fumaças da falta.
Sete vidas que vão
Nos fornos da fome.
Sete vidas que vão
Em sete vidas mais?
Sete vidas não, não.
‘Ratos’ não as têm!
(Matheus Fontella, novembro de 2000)
Ilustração: imagem do sufocante documentário 'Os Carvoeiros', do diretor inglês Nigel Noble.