sexta-feira, outubro 06, 2006

 
ZONA PERIFÉRICA
(Visitando Apollinaire)

Ando perplexo com este museu da novidade
Dizem que o novo não é bom e o bom já tem certa idade
Claro Florença continua bela Paris radiosa
Mas a metrópole do momento é global
Em suas artérias pretensa vida mundial
Tudo é vírus aldeia em rede nervosa
Acredita-se agora genes são deuses
Homens notáveis não choram decepam o pênis
Genes não são Olimpo mas engrenagens
Fêmeas machos fazem plástica recauchutagens
A verdade fica melhor numa cara siliconada
A veneração é toda marca consagrada
Porém aqui ali surge a (h)era da depressão
Alastrada entre os que devem trabalhar em comunhão
Economias movidas pelos fundos de pensão
Esses invejados por top models esguias
- Que são as santas do momento -
E pernas com design de espigão
Arranha-céus feito malaios cingaleses
Hong Kong devoradora de enguias
Interligados por holdings em nome do crescimento
Modelos com fome africanos também
Famintos de tudo visando mansões além
Na Califórnia na segunda-feira sem sacrifício
Nas guerras árabes nas ações do Vale do Silício
E vejo tudo através da tela
Cristal líquido idade da pedra
Nus da Internet novo vírus que medra
Wittgenstein em 0,10 segundos e a vida real ela
Masca coca à margem do Titicaca sim masca
Se eleva filósofa volta-se para Meca
O Buda explodido o 11 de Setembro
Ficou a imagem o motivo não lembro
Pois vi a Nicole Kidman no dia anterior
Pois vi o Brasil campeão ano depois
Folheando Salman Rushdie & E. W. Said
Auto-ajuda sussurra não arrote nem peide
Condenando os pedófilos os Republicanos
A teocracia saudita o restante dos humanos
A Igreja Católica completa 2 mil anos
E as tranças do rastafári também
Egoístas ecologistas de escritório se dão bem
Verde-dólar iene-vem ouro-amém
Controles remotos clamam blém blém blém
RPGs MP3s DVDs mundos virtuais
Túnel do Canal esteiras matinais
Fliperamas ausência dos pais
Os amantes estão sôfregos no cais
À espera dos psiquiatras recitam haicais
A sombra do Homem espelhada numa caverna
Do Afeganistão ou de si mesmo
O amor anda angustiado à esmo
O compromisso é menos profundo que cisterna
A vontade de afrouxar os laços eterna
Se amarrar pode ser perigo mesmo
O negócio é ser online mas se desconectar
Da paixão ao ódio tudo deletar
Exceto os fotologs e sua cara de ameba
Exceto a defesa das florestas da Noruega
Cromossomo Y vai se extinguir
Plasmônica Supercordas Teoria dos Quanta
Nada faz de mim clone do Grão-Vizir
Bebo daí o Fórum Social Mundial
Tão parecidos a Nigéria o Nepal
Tua sala de estar o Music Hall
Matrix Chatix Asterix Obelix
Toda nova roqueira não canta mas espanta
Logo ela minha gostosa ex-vizinha
Aos 15 da mamãe cyborg aos 20 da mídia rainha
A escrita um tédio desde Pero Vaz de Caminha

(Matheus Fontella)

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