sexta-feira, outubro 20, 2006

 
POETA

Hoje, no Dia Nacional do Poeta, alguns poemas meus sobre este trabalho cada vez mais difícil, na produção, na divulgação e na recepção. Causas? Mau ensino, má-vontade de editoras, maus autores, má exploração de temas nos poemas e má oferta, porque excessiva (sendo 90% de mediocridade). Mas vamos aos versos:

OFICINA

Viver.
Saber.
Filtrar.

POR DEFINIÇÃO

Que os meus versos não sejam
Para homens estetas,
Mulheres patetas
E gays do tipo atletas.
O alvo dos poemas devem ser
As pernas abertas:
Fazer amor.
Tirar um filho.
Se aliviar.
Que sabe montar
Na bicicleta até o choque
Contra o muro
Ou o sol
Sem se importar tanto com o colesterol.

RUIM DO FÍGADO

Até hoje, leitor,
Não li poeta bom
Que não fosse um tanto louco,
Sofresse dos olhos (por ideologia ou miopia),
Padecesse do coração,
Amargurasse o fígado
E morresse no bolso.
Mas tudo isso é idiotice
Que escrevi para gastar a tarde
E o seu precioso tempo,
Aquele em que você planeja
Como executar seu chefe,
Sua sogra,
O técnico do seu time,
Ou aquele amigo que agora chora
Porque sabe que hoje
Ainda
Não foi traído...

SER EXTREMOS
(Apollinaire)

A poesia pode ser só palavra,
Mas, aqui e ali, um pensamento.
Sempre ter livros fora da estante
E, entre coxas, o discernimento.

CRÍTICA LITERÁRIA

Ela disse que meus poemas
Não molharam a calcinha.

Tentar Neruda?

INFERNO, PURGATÓRIO E PARAÍSO

Os ingredientes
De um Poeta
São talento,
Sofrimento
E firmamento.
Nos três estágios,
Uma leitura se forja,
Um aço se inscreve,
Um abraço se imagina.
Nos três estágios,
Um flor se contamina,
Um câncer se ilumina,
Um gozo se amarga.

DUETOS

A transcendência,
A realidade,
O hedonismo,
O cartesiano,
A ponderação,
A piração,
O gozo,
O ônus,
A alegria divina,
A merda de vida,
O corpo malhado,
O carnê,
A leitura de Drummond,
A droga da fila,
O ventre,
O alívio da cagada,
A Poesia,
A Poesia.

MAIS-VALIA

Verso bom,
Valor
Que a contabilidade do Silêncio,
Estupefata,
Arrecada.

DE PONTA A PONTA

Nesta manhã, minhas poesias
Mais parecem,
De ponta a ponta,
Crianças chinesas,
Brasileiras.

Assassináveis todas...

SURREAL

Cabeça de vento.
Coração de rua.
Estômago de urubu.
Sexo de hiena.
Bolso de piada.
Pé sem raiz.
Tela de Dali?
Não. Anatomia de um poeta.

(Matheus Fontella)

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