segunda-feira, agosto 14, 2006
ESPELHO ESTILHAÇADO
I
Eu flutuante,
Conciliando crenças
Plenas de desavenças,
Ora a ordem da mulher,
Ora o que se quer,
Hoje fico em casa,
Amanhã levanto asa.
II
Eu enganado,
Fiel ao que me esmaga
Soco na ponta de adaga,
Por mais que seja clara
À ruína se declara,
Aos corvos parabéns,
Ao mal entrega os bens.
III
Eu dilacerado,
Tudo o que vejo
É só o que desejo,
De Átila, o quinhão,
De Fausto, a comunhão,
A vontade de conquista
A Satã é bem-quista!
IV
Eu hierárquico,
Vale o que organizo,
O resto não tem juízo,
Apenas paciência
Para a preferência,
Aos sonhos de minha ordem
Os olhos nunca dormem.
V
Eu descontínuo,
Ao sabor da mudança,
O agora é a única herança,
Ontem aprontei demais,
Amanhã não sei se resta mais,
O passado, ponte interditada,
O futuro, ilha adiada.
VI
Eu duplicado,
O que vivo neste lugar
Estou em outro a trilhar,
Aqui fico a postos,
Ali avanço opostos,
Neste instante, tenho duas caras,
Neste instante, não dou as caras.
VII
Eu freudiano,
Violência inconsciente,
Mas recordo ser parente,
Canibalismo, incesto,
Vontade de matar, não presto,
Não, sou formal a cabresto,
Da civilização, eu quem resto.
VIII
Eu sócio-econômico,
Dividido entre o ser e o ter,
Sem direito e a dever,
Uns têm anel, uns têm anal,
Este é a águia, aquele cardeal,
Quantos papéis podres já fiz,
Mas papéis podres não quis.
IX, enfim
Eu não-eu,
Não passo de ilusão aos teus,
Aos seus e aos olhos meus,
Sim, não importa o observador
E se me taxa de inimigo ou amor,
Mas como nutrir esta carcaça budista
Se o regime é de espírito capitalista?
(Matheus Fontella)
I
Eu flutuante,
Conciliando crenças
Plenas de desavenças,
Ora a ordem da mulher,
Ora o que se quer,
Hoje fico em casa,
Amanhã levanto asa.
II
Eu enganado,
Fiel ao que me esmaga
Soco na ponta de adaga,
Por mais que seja clara
À ruína se declara,
Aos corvos parabéns,
Ao mal entrega os bens.
III
Eu dilacerado,
Tudo o que vejo
É só o que desejo,
De Átila, o quinhão,
De Fausto, a comunhão,
A vontade de conquista
A Satã é bem-quista!
IV
Eu hierárquico,
Vale o que organizo,
O resto não tem juízo,
Apenas paciência
Para a preferência,
Aos sonhos de minha ordem
Os olhos nunca dormem.
V
Eu descontínuo,
Ao sabor da mudança,
O agora é a única herança,
Ontem aprontei demais,
Amanhã não sei se resta mais,
O passado, ponte interditada,
O futuro, ilha adiada.
VI
Eu duplicado,
O que vivo neste lugar
Estou em outro a trilhar,
Aqui fico a postos,
Ali avanço opostos,
Neste instante, tenho duas caras,
Neste instante, não dou as caras.
VII
Eu freudiano,
Violência inconsciente,
Mas recordo ser parente,
Canibalismo, incesto,
Vontade de matar, não presto,
Não, sou formal a cabresto,
Da civilização, eu quem resto.
VIII
Eu sócio-econômico,
Dividido entre o ser e o ter,
Sem direito e a dever,
Uns têm anel, uns têm anal,
Este é a águia, aquele cardeal,
Quantos papéis podres já fiz,
Mas papéis podres não quis.
IX, enfim
Eu não-eu,
Não passo de ilusão aos teus,
Aos seus e aos olhos meus,
Sim, não importa o observador
E se me taxa de inimigo ou amor,
Mas como nutrir esta carcaça budista
Se o regime é de espírito capitalista?
(Matheus Fontella)