terça-feira, julho 25, 2006

 
DESTINOS

Há 15 anos exatos, perdia, em São Borja, um dos meus avôs, o materno, na véspera de completar nove décadas de uma vida, num pampa gaúcho - parafraseando o poeta grego Seféris - que ainda me dói onde quer eu vá. Lembro de que Ele, vô, tão apegado ao jornal, qualquer jornal, e ao rádio, não se acostumava em ver TV. Acho que não seria diferente hoje com a Internet, blogs e toda parafernália digital que nos cerca (e até nos domina...). Gerações diferentes... E é num dos canais da minha que expresso minha saudade eterna:

Terra Natal

As demoradas horas de prosa
Com o avô e o pai
Fazem uma pausa
No café preto da tarde,
Pontualmente às dez para as quatro
Sorvido com bolachas.
Bolachas que trazem uma pausa
Às demoradas horas de prosa
À sombra dos angicos.
Pausa também na costura
Menos nas recomendações
Maternais
Que a gente tanto esquece
Pela vida inteira
E o tango
E o riso
Maternais
Que a gente não esquece, não!
E a terra natal fica assim
Minha Irmã, Rosa que não é
Só de sangue.
E a alma do cais.
E a alma dos campos de várzea.
E a alma da lavoura azul-turquesa
Do linho que não existe mais,
Mesmo rumo dos líricos 16 anos.
E fica algo mais da terra natal
No meu ouvir ‘causos’ sobre
O finado Getúlio
E na minha esperança irada
E no meu descontentamento
Pelo Hoje
E na minha poeira
Vermelha
E no retorno
À Poesia
De nosso destino
(Íntimo e azul)
De terra natal.

(Matheus Fontella)

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