terça-feira, maio 02, 2006
OUTROS TEMPOS, OUTRAS LATITUDES DE OUTONO
Neste instante, não estou aqui nesta tarde nublada, fria e chata de Porto Alegre. Estou em 1908, vendo Gustav Klimt arrematar sua bela e famosa tela O Beijo, uma imagem intensa de paixão,
enquanto a velha Viena dos Habsburgo cada vez mais ruma para a decadência política e militar, em meio a histórias de perversidade sexual entre seus nobres... Beleza e bizarrice, como numa música do Velvet Underground, agora já em Toronto, num festival de verão em 1969, mais do que prenúncio, certeza do fim de qualquer sonho hippie... Um sonho colorido, também de verão, mas centúrias antes, precisamente no século 16, na Inglaterra (no Globe Theater?), com Shakespeare atento à estréia de suas fantasias, de seus devaneios cômicos numa rememorada noite de verão, algo distante de A Tempestade, já do fim da vida, tragédia delirante e misteriosamente introspectiva, assim como o outono ou o olhar fogoso dos gatos e das amantes de Baudelaire, na Paris de 1845, ou ainda os versos de É o Silêncio, do poeta simbolista baiano Pedro Kilkerry, lá por 1900, com seu clima de mal-disfarçado sufocamento, ardente solidão e desenfreada nostalgia... Sim, outros tempos, outras latitudes de outono...